Episódio "Vatos", The Walking Dead

O tema desse post é a série como um todo, mas em especial volto minha atenção para o episódio “Vatos” (S01E04).

Inexplicavelmente o mundo atravessa um apocalipse zumbi que coloca em risco a vida dos seres humanos. Não sabemos de onde vem, muito menos para onde vai essa situação limite a qual todos os personagens de The Walking Dead se deparam. Vemos que estão a todo o tempo tentando se proteger do pior – a morte.

“You fascinate me”

Pensar numa realidade catástrofe, como essa, proporciona à narrativa inúmeras situações extraordinárias. Para uma obra de ficção, não há melhor prerrogativa do que começar por algo que fuja ao padrão social comum; que seja ilegal (Weeds), amoral (Dexter) ou até mesmo, impossível (?), como é o caso da trama de The Walking Dead. Sempre teremos uma atração inquestionável por aquilo que nos é moralmente condenável. Somos um emaranhado de desejos, tanto para o mal, quanto para o bem; talvez por isso essas narrativas façam tanto sucesso, pois trabalham com o politicamente incorreto dentro de um campo de verossimilhança da psicologia humana.

Dentro dessa realidade apocalíptica e ameaçadora, Robert Kirkman, um dos criadores da HQ Walking Dead e roteirista da série, observa que para sobreviver as pessoas fazem o que elas tiverem que fazer por suas vidas e em alguns momentos até os mais violentos podem se tornar um daqueles que podem nos proteger. Daryl Dixon é um exemplo de personagem que cumpre essa função. Vejo que ao colocar integralmente os personagens sob uma ameaça intermitente se proporciona um estado de conflito que pode, a qualquer momento, desintegrar um instante aparentemente tranqüilo. O episódio “Vatos” traz exatamente esse predicativo. Para além desse ponto de vista, considero “Vatos” um emblema na questão de se trabalhar a relação dramática dentro de um episódio. Temos dois pólos: começo e fim, neles cenas completamente opostas se dialogam ao estabelecer eixos comuns para um mesmo objetivo: o cliffhanger do final do episódio. Abre-se uma cena com uma imagem belíssima no segundo inicial do capítulo, as irmãs Andrea e Amy – após o feliz reencontro – estão a pescar e a conversar sobre a educação diferenciada que o pai proporcionou a ambas. Essa cena é extremamente bem recortada. É uma relação familiar de grande amor, conexão. Ao mesmo tempo em que o próprio discurso, ao aprofundar a ligação entre as irmãs, tenciona para que o espectador se identifique com elas, com a fraternidade de ambas. Identifico essa fraternidade como o ponto culminante para o drama que veremos na cena final de “Vatos” e para substancialmente entendermos a dor de Andrea. Essa cena da pescaria é seguida por Dale observando um comportamento tão inusitado quanto suspeito por parte de Jim. Esse é o segundo elemento que irá fortalecer todo o drama do cliffhanger do final do episódio. Pois, temos, após uma bela cena tanto de paisagem quanto de delicadeza de relações, um homem cavando inúmeras covas. Harmonia e suspense andando lado a lado.


Agora sabemos que as irmãs têm em si sua única família, a morte de uma delas acarretará um grande sofrimento, principalmente depois que temos a dimensão, dada pela cena, do amor que as duas se reservam. Tudo sempre bem planejado. Ao longo da história permanece o mistério: covas estão sendo cavadas, por quê? Durante o episódio, Rick Grimes ainda está no centro de Atlanta com seus homens a procura de Merle, que já não está no lugar em que fora algemado. Vemos a força de Merle ser colocada em destaque, pois o mesmo executou sua fuga mesmo depois de ter serrado o próprio punho. Certamente Merle será um personagem a ser usado posteriormente e, novamente, como um instrumento para se criar cenas de suspense, uma vez que o personagem é uma vingança iminente. Com o desaparecimento de Merle, Rick volta a sua atenção para a sua mala de armas que ficou perdida pelas ruas. O bando parte para recuperá-la e é surpreendido pelos homens de Guilhermo. Após uma resolução pacífica de um conflito que poderia gerar um derramamento de sangue entre as “gangues”, Rick parte para o acampamento. Entretanto, seu veículo fora roubado, o que atrasa sobremaneira sua chegada. Esse atraso é proposital, pois o desfecho precisa disso. Cai à noite, em volta de uma fogueira, num clima aprazível, os personagens se entretêm. Estão aparentemente longe do perigo, longe de Atlanta! Estavam despreocupados quando o sonho de Jim e o motivo por ter cavado tantas covas se fez realidade.


É uma grande cena dramática em que, para os que acompanham a série, inúmeros elementos se juntam. Agora se criou uma rachadura dentro da organização do grupo, pois já não é mais seguro ficar onde estão. Há, ainda, o pavor que ronda os personagens. No apocalipse que tomou conta do mundo, ninguém poderá garantir segurança. Todos estão sob ameaça e agora, mais do nunca, precisam se mover em busca de novas estratégias.

No quinto episódio o drama de Amy e Andrea retorna e, novamente, vemos um excelente trabalho de cena. Reparem no recorte da câmera nesse desfecho da relação das duas.


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