PROCURA-SE SÁ DE MIRANDA

Após passar a catraca da Estação Vila Madalena do Metrô, virando pela direita, deparo-me com ISSO:

CANTIGA

Comigo me desavim
no extremo som do perigo;
não posso aturar comigo
nem posso fugir de mim

Com dor da gente fugia
antes que esta assi crescesse
agora já fugiria

De mim se de mim pudesse
que meo espero ou que fim
do vão trabalho que sigo
se trago a mim comigo
tamanho inimigo de mim?

SÁ DE MIRANDA
(1481 – 1558)

Como alguém que viveu séculos antes de mim se atreve a descrever com tamanha precisão o que constantemente sinto? Não consigo medir o meu impacto ao ler o que li, aliás, mal consigo segurar nas mãos a força dessa poesia. E então se fujo porque não posso me aturar, mas consigo libertar a dor quando esta me guilhotina, por que ainda caminho acompanhando comigo um eu inimigo? Se é assim, o que me restará? Nada! Ao menos nada que eu possa fazer. Porque por mais que eu leia qualquer tipo de psicanálise ou filosofia uma pergunta sempre ficará sem resposta: por que Deus e o Diabo sempre ocupam o mesmo lugar?

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